Marcos Malamut fala sobre os benefícios dos projetos para o ser humano e o espaço urbano
Autor: Regina Motta - Data: 01/03/2011
Marcos Malamut é arquiteto e urbanista (FAU-USP/1994), especialista em plantas ornamentais e paisagismo (UFLA/2009). Desenvolve projetos de paisagismo para áreas residenciais, comerciais, industriais e públicas há 15 anos e trabalha com treinamentos para profissionais da área e estudantes há 6 anos. Através da Proflora ministra cursos e workshops intensivos em diversas regiões do país.
AuE Soluções: Fale um pouco sobre você e seu trabalho. O que a levou a escolher esta bela profissão?
Marcos: Sempre tive interesse pela área de paisagismo e quando estava na faculdade de arquitetura pude perceber como esse trabalho pode ser rico. Tive noção naquele momento de sua importância e complexidade. Depois da conclusão do curso tive a oportunidade de me aproximar da área, desenvolvendo projetos. Meu envolvimento foi crescente e hoje, além de desenvolver projetos de paisagismo, também trabalho na área de treinamentos, procurando difundir informação e capacitar profissionais para o mercado.
AuE Soluções: O que você julga essencial na elaboração de um projeto?
Marcos: Para elaborar um projeto é preciso em primeiro lugar ter clareza em suas intenções e objetivos. Parte dessas informações vem de sua capacidade de compreender as necessidades de seu cliente e dos futuros usuários do lugar. Mas é a capacidade de leitura espacial que vai orientar as formas e estratégias necessárias para atingir esses objetivos. É muito importante desenvolver a percepção espacial.
Além disso é preciso compreender o ambiente físico e a paisagem em que o projeto será inserido. Mesmo em pequenos lotes urbanos essas informações são determinantes para um projeto coerente e bem sucedido. O bom projeto é resultante de seus componentes espaciais, ambientais, culturais e paisagísticos, num sentido mais amplo.
AuE Soluções: Quais ferramentas você utiliza para ajudá-la na elaboração de um projeto?
Marcos: Logo após os croquis iniciais, trabalho sobre uma base em AutoCAD com o software AutoLANDSCAPE, que é usado para o desenho, para quantificação de plantas e insumos e para a elaboração de orçamentos com muita rapidez.
AuE Soluções: Você acredita que o paisagismo tem a possibilidade de melhorar a vida das pessoas?
Marcos: O paisagismo traz não só benefícios individuais como coletivos, indo muito além de seu papel ornamental. Pode reduzir os impactos gerados pela ocupação humana e o desequilíbrio dos sistemas urbanos. Contribui para a redução das temperaturas, para o equilíbrio da umidade do ar, para drenagem das águas pluviais reduzindo as inundações, reduz a poluição sonora e a poeira em suspensão. E isso não é conseguido apenas através de um grande plano urbano. A soma de pequenas intervenções paisagísticas promove a qualidade de vida de seus usuários diretos, e também a da cidade como um todo. Paisagismo melhora o equilíbrio, o conforto, a eficiência energética e sustentabilidade urbanas quando adequadamente planejado.
AuE Soluções: Como você conheceu a Aue Soluções?
Marcos: Recebi um contato de um representante da Aue e me tornei parceiro há cerca de seis anos. Sou usuário do AutoLANDSCAPE desde sua versão 2002!
AuE Soluções: Qual a sua opinião a respeito do Paisagismo Digital? Em que ele pode ajudar no trabalho do paisagista?
Marcos: Vejo como uma grande iniciativa, que promove o encontro e o intercâmbio de informações entre todos os envolvidos no mercado de paisagismo, sejam produtores, fornecedores, paisagistas ou consumidores finais. E, além de facilitar a localização de fornecedores de produtos e serviços, é ainda uma base rica e confiável de informações, sempre muito útil.
AuE Soluções: Fale-nos sobre um projeto que você tenha curtido fazer!
Marcos: Ao solicitar o paisagismo para seu novo refúgio de praia, essa cliente tinha uma necessidade bastante clara: privacidade. A casa apesar de estar em um lote com boas dimensões tinha seus espaços totalmente visíveis a partir da rua. Além disso, não possuía uma entrada social definida que orientasse e recebesse seus visitantes. Havia ainda a preocupação de que o projeto tivesse uma linguagem particular, com ênfase nas características próprias da região, sem reproduzir fórmulas ou modelos estéticos.
Outro aspecto importante era o ambiental. Inserido em uma área de proteção com vegetação representativa da restinga do litoral norte baiano, o lote impunha uma proposta de paisagismo que respeitasse essa condição. Foram utilizadas no projeto plantas originárias de ambientes compatíveis com a restinga baiana e, sempre que possível, plantas nativas, tendo sido produzidas mais de 2500 mudas exclusivamente para esse jardim.
A implantação do projeto promoveu uma total reconfiguração do espaço pré-existente, em apenas 3 semanas. A concepção proposta organiza e hierarquiza os novos espaços, procurando evidenciar os diversos níveis de privacidade. Assim, apesar de não haver barreiras físicas, o visitante ao avançar para o interior do lote é capaz de identificar a transição entre público, semi-público e privado proposta.
O elemento articulador do projeto é um percurso sinuoso, calçado com pedras portuguesas, que atravessa todo o lote no sentido longitudinal ligando o acesso pela rua ao acesso de pedestres localizado nos fundos, interrompido apenas pelo deck da piscina. Esse percurso foi desenhado de forma a impedir os eixos de visão originais, que atravessavam o lote. Para garantir a obstrução da visão, o caminho avança entre elevações de solo criadas artificialmente. Essas elevações foram desenhadas de maneira natural, na forma de suaves ondulações, acomodando-se à topografia original do entorno sem se destacarem ou se fazerem percebidas como fora do contexto original.
Como um dos principais objetivos do projeto era impedir a visão do exterior para o interior do lote, um dos maiores riscos seria a sensação de enclausuramento. Para amenizar o problema, os volumes vegetais propostos apresentam reentrâncias e saliências, variações de altura, cores e texturas, o que permite uma sucessão de planos visuais. Essa estratégia permitiu que se garantisse a sensação de abrigo e a proteção a olhares externos, sem promover a sensação de confinamento que uma cerca-viva convencional provocaria.