Paisagista Ricardo Marinho: Uma trajetória de sucesso internacional

Autor: Regina Motta - Data: 03/09/2014

Ricardo Marinho Paisagismo Ltda., http://www.ricardomarinho.com.br, desde 1982, é um Estúdio - Escritório, liderado pelo Engenheiro Agrônomo - Paisagista e Artista Plástico Ricardo Marinho, especializado em projetos detalhados de jardins refinados, painéis, murais e projetos de irrigação automatizada.

Reconhecido internacionalmente, recebeu o premio de paisagista do ano, concedido pela Revista A&D em 1994 em São Paulo - Brasil. No Concurso Internacional de Aguilas na Espanha, recebeu o 2º prêmio do júri em 2008. Seus projetos são trabalhados como forma de expressão artística, e variam em escala e escopo, desde parques, praças, residências particulares, painéis, murais, resorts, condomínios e planejamento ambiental.

Seus jardins se convertem em lugares onde se pode descansar brincar, reunir-se socialmente e desfrutar o prazer dos sentidos.


Festival de Jardins de Ponte de Lima - Portugal

Aue Paisagismo: Sabemos que o senhor tem uma vasta experiência internacional, e formação também na área de Artes Plásticas. Poderia nos dizer como foi a escolha desta profissão de Paisagista? Fale-nos um pouco sobre sua formação e experiência.

Ricardo Marinho: Sempre fui desde muito jovem atraído pela horticultura ornamental. Em nossa casa minha mãe cultiva diversas plantas e eu a seguia nos cuidados das mesmas. Em 1974 fui fazer um intercâmbio nos estados Unidos para o ensino de 2º grau, onde fiz o último ano como sênior na Wiscasset High School, situada ao norte de Boston, lugar bastante frio no inverno. Para minha surpresa a escola tinha uma estufa de plantas tropicais na classe de Biologia. Eu passava boa parte do meu tempo livre cuidando das plantas dessa estufa - begônias, helicônias, sansevierias entre outras. Nesse mesmo ano tive minha primeira instrução formal em artes plásticas e fotografia.

Ao voltar para o Brasil no ano seguinte vim decidido a fazer um trabalho artístico, mas que envolvesse plantas. Então a escolha seria fazer paisagismo. Como não havia escolas específicas de paisagismo decidi cursar Agronomia. Por volta do 2º ano parei um pouco e fui estudar Arquitetura durante 1 ano, trabalhar um pouco, experimentar o mercado pois a aposta que eu estava fazendo àquela altura era muito alta!

Acabei desistindo da arquitetura e voltando para concluir o curso de Agronomia me especializando em Horticultura e Fitotecnia.


Jardim Botânico São Gonçalo do Amarante - CE

Aue Paisagismo:Como foi a sua convivência com o Mestre Burle Marx? Qual a sua influência em seus projetos?

Ricardo Marinho :A convivência com Roberto Burle Marx foi a mais interessante de minha vida. Conheci o Roberto ainda muito jovem.
Em um período de férias da Universidade em 1978, saí de Fortaleza para o Rio de Janeiro, decidido a fazer um curso no Jardim Botânico e conhecer o Roberto. Só que eu não tinha a menor ideia de como fazer uma coisa nem outra.
Por sorte, uma determinada noite fui a um Teatro próximo de onde eu me hospedava na Gávea e havia uma galeria de arte com uma exposição do Roberto no mesmo edifício. No dia seguinte fui até a Galeria Saramenha ver a exposição e conseguir o endereço do escritório dele, no que fui bem sucedido. Em seguida me dirigi até o escritório em Laranjeiras para conhecê-lo. Levava comigo algumas fotos e desenhos de projetos meus - bem primários.
Para minha surpresa a secretária me atendeu e em seguida o Roberto veio falar comigo! Viu minhas fotos e desenhos, criticou, deu sugestões me apresentou aos membros do atelier- José Tabacow e Haruyoshi Ono, que me acolheram de forma hospitaleira e perguntou qual era minha intenção.

Eu disse-lhe da minha dificuldade em me desenvolver profissionalmente e que necessitava de treinamento mais específico. Ele me disse que daí a 2 dias, no domingo, iria receber em seu Sítio Santo Antônio da Bica, vários professores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e muitos artistas seus amigos para um almoço e me convidou para esse evento, prontamente aceitei o convite.
Seis meses depois voltei ao Rio de Janeiro para fazer cursos no Jardim Botânico e retomei o contato com o Roberto.



Por coincidência, nesse período ele estava desenvolvendo um projeto para uma residência em Fortaleza e me pediu para que se eu pudesse me envolvesse na execução, dada a dificuldade em ter pessoas especializadas com possibilidade de executar o projeto em Fortaleza.
Esse foi o primeiro de uma série de projetos que eu colaborei na execução e manutenção aqui em Fortaleza, alguns eu ainda cuido até hoje!

Período tão longo de convivência me permitiu conhecê-lo com muita proximidade e aprender bastante. Isso deixou em mim uma marca indelével. O Roberto foi um grande maestro, sempre querendo conhecer o mundo que o cercava e transmitir seus conhecimentos.

Fui realmente uma pessoa de muita sorte por ter convivido com ele por tanto tempo. Há alguns projetos que fazemos e às vezes comentamos com os membros da nossa equipe- "O Roberto gostaria de ver isso!".




Aue Paisagismo: Dentre as várias vertentes de seu trabalho, qual é a que lhe causa maior prazer? E qual delas pode ser considerada a mais desafiadora?

Ricardo Marinho: Ainda hoje me sinto bastante motivado pelo que faço. Eu diria que o mais prazeroso é quando você consegue atingir um número maior de pessoas e que o projeto tenha finalidades educativas além de seus valores estético intrínsecos. Fizemos alguns anos atrás - 2001, um projeto de um Jardim Botânico em São Gonçalo do Amarante-CE, o resultado ficou muito interessante. Agora estamos envolvidos em outro projeto de Jardim Botânico na cidade de Olímpia - SP. Mas não consigo separar outros projetos, gosto muito do que faço. O jardim que fizemos para o Festival de Jardins de Ponte de Lima em Portugal -2011, embora bem pequeno, tivemos um resultado impressionante. Então não é uma questão de escala!



Aue Paisagismo: Como sente o exercício da profissão de paisagista na atualidade, percebe maior valorização?

Ricardo Marinho:É cada vez mais necessária a participação do paisagista. Esse profissional pode participar em diversos segmentos, em equipes multidisciplinares.

No planejamento do espaço urbano, na elaboração de projetos de parques e jardins. No segmento imobiliário essa profissão é cada vez mais exigida. Quanto mais exíguo se tornam os espaços, melhor eles devem ser planejados. A vida nas cidades demanda mais e mais espaços livres para a convivência dos cidadãos.

Aue Paisagismo: Os painéis artísticos são um diferencial em seu trabalho. O que nos diz sobre eles?

Ricardo Marinho: Os painéis são uma paixão à parte. Nesse meio posso expressar de forma bastante livre. Eles se integram e complementam a obra do paisagismo, não há limitação como às vezes ocorre no paisagismo. Tenho experimentado diversos meios - granito, aço, pintura, pastilha, cerâmica e tudo mais o que me vem à mão. Temos feito diversos painéis relativamente grandes e com resultados bastante positivos.

Jardins Verticais








Aue Paisagismo: Projetos de irrigação fazem parte também de sua atividade. A água é hoje uma preocupação para a humanidade e, racionalizar seu consumo, um imperativo para todos nós. Como tem sido trabalhar com o HydroLANDSCAPE?

Ricardo Marinho:

O HydroLANDSCAPE é realmente uma ferramenta fundamental. Permite-nos fazer diversas simulações de lay-out de aspersores em um curto espaço de tempo, para vermos algumas vezes o que melhor para uma determinada situação. Ajuda bastante na tomada de decisão. Os sistemas de irrigação realmente ajudam na racionalização do uso desse bem tão precioso.


Aue Paisagismo: Descobrimos também que o senhor tem um viveiro de palmeiras e uma das espécies foi descoberta pelo senhor. Pode nos contar um pouco sobre esta experiência?


Condomínio Gerânios

Ricardo Marinho: As palmeiras são para mim os elementos do reino vegetais mais interessantes e versáteis. Este ano presenciamos nos jardins de nosso escritório o florescimento de uma Corypha umbracullifera, tem sido um espetáculo, fizemos inclusive um sarau para comemorar o evento.

Há 10 anos estabelecemos uma nova empresa - Palmetto do Brasil - para suprir o mercado com plantas de grande porte, já que a grande maioria das palmeiras suportam transplantio em estado adulto e podem ser transportas a longas distâncias. Temos aproximadamente 60.000 plantas em nossos campos de cultivo, entre espécies brasileiras e exóticas.

Há alguns anos atrás, nosso querido amigo Harri Lorenzi - Instituto Plantarum e Jardim Botânco Plantarum - com quem colaboramos frequentemente, estava preparando a primeira edição de seu livro de palmeiras. Na sua passagem por Fortaleza, com um grupo de pesquisadores, tivemos a oportunidade de almoçarmos juntos aqui em nosso atelier.

No jardim eu tenho alguns exemplares de uma espécie de Syagrus, nativa do estado do Ceará, que até então não sabíamos o nome científico. O Lorenzi coletou material e levou para São Paulo na tentativa de identifica-lo, sem sucesso. Em seguida fez contato com outro amigo, o pesquisador Larry Noblick, diretor científico do Montgomery Botanical Center em Miami-EUA, que morou aqui no Brasil muitos anos e é um dos maiores especialistas em Syagrus.

A partir do material que lhe foi enviado ele classificou a espécie - Syagrus cearensis, em homenagem ao estado do Ceará. Essa espécie ocorre em pequenas áreas do Ceará e muitos desses ambientes estão sendo destruídos. Então estamos cultivando em nossos campos para que se utilize esta planta de grande valor ornamental sem que retirem plantas da natureza.


Corypha umbraculifera

Aue Paisagismo: O Senhor tem prêmios nacionais e internacionais. Poderia nos falar sobre eles?

Ricardo Marinho: Em 1989 submetemos um projeto que havíamos feito para uma residência, ao concurso da Revista A&D. Era o jardim de uma residência com uma área de aproximadamente 12.000m², diversos lagos para o cultivo de plantas aquáticas como a Vitoria regia, Nymphaea sp., Cyperus papyrus entre outras plantas. Área para a prática de caminhadas e uma estufa para colecionar orquídeas e bromélias.

Naquele ano eu estava bem no início de minha prática profissional e para mim foi um estímulo tremendo, além do prêmio, que eram bilhetes aéreos internacionais que permitiram viajar para a Europa e Estados Unidos algumas vezes, aproveitando para visitar jardins como o Kew Gardens em Londres, o jardim de Versalhes na França, os jardins do pintor Claude Monet em Giverny, o Central Park em Nova York entre muitos outros. Foi para mim oportunidade de ampliar meus conhecimentos sobre a arte do paisagismo.

No ano de 2008 submetemos um projeto - "EL TABLERO DE PIEDRAS" - para cidade de Aguilas no Sul da Espanha para uma praça pública.

Esse projeto foi desenvolvido com um antigo estagiário, hoje arquiteto, Daniel Mancheño, natural da Espanha. A área contemplava diversos equipamentos, como um anfiteatro, passeios generosos, jardins escalonados, devido a topografia bastante acidentada do terreno, um mirante na porção superior do terreno, para que se pudesse observar a vista do mar Mediterrâneo e uma cafeteria - "Las Cuevas", que seria escavada na rocha de xisto que forma o terreno natural, remetendo a antiga tradição Andaluza de fazer habitações escavadas nas rochas como aquelas que vemos em Granada.
Esse projeto feito a quatro mãos foi elaborado usando a moderna tecnologia de internet, pois o Daniel já havia voltado para a Espanha, então preparávamos alguns esboços e íamos elaborando e enviando desenhos até chegarmos ao resultado final.

Em 2011 fomos selecionados para o Festival de Jardins de Ponte de Lima na região do Minho ao Norte da cidade do Porto, Portugal.

Tema do Festival naquele ano era "A Floresta no Jardim". Nosso escritório foi o único selecionado na América do Sul para participar do festival.

O nosso projeto - "Antropia x Entropia" foi selecionado e construído naquele ano e ficou exposto durante 10 meses. O Festival de Ponte de Lima é um dos mais importantes da Europa.

Aue Paisagismo: Seu portfólio de projetos impressiona com mais de 800 trabalhos em várias áreas!
O uso de ferramentas como o AutoLANDSCAPE ajuda na criação e execução de tantos projetos? Qual deles lhe traz mais satisfação? Seria possível nomeá-lo entre tantos?


Ricardo Marinho: Sem dúvida o AutoLANDSCAPE se mostrou uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento de nossos projetos.

Permite-nos fazer alternativas de modo fácil e prático. Automatiza tarefas que às vezes nos tomavam bastante tempo. Sua base gráfica é de excelente qualidade e um banco de dados que pode ser personalizado sem limites, faz do AutoLANDSCAPE uma obrigação para qualquer profissional que queira desenvolver trabalhos de alto desempenho.


Difícil nomear um projeto entre tantos. Tem-se a impressão de que o melhor é aquele que estamos fazendo por último. O Jardim Botânico de São Gonçalo foi bastante importante para nós.
Todos os projetos que executamos para o Burle Marx foram fundamentais em nossa prática profissional.
Taíba Beach Resort foi bastante desafiador e aconteceu no ano em que se comemorava o centenário de nascimento do Roberto Burle Marx e foi como nossa homenagem a ele, nosso querido amigo, mestre e mentor.

Taiba Beach Resort









Aue Paisagismo: Para os jovens que estão ingressando na profissão, qual seria seu conselho?

Ricardo Marinho: Trabalho, estudo e perseverança são indispensáveis a uma boa prática profissional. Diversifiquem sua base cultural e exercitem sua imaginação e talentos, pois eles são o ponto de partida para que se obtenha sucesso nas suas investidas.
Obrigado.

Projeto:SHEIK TALEB BIN SAQR AL QUASSIM





















Projeto Edifício Bosque das Flores -Fortaleza - CE



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1 - Autor: Tui Falcão - Data: 06/10/2014 19:41:13

os projetos são muito bacanas. espero, em breve, visitar o jardim botânico em Fortaleza pra ver de perto essa maravilha. Parabéns Ricardo ...sucesso sempre !




Entrevista
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